ALMANAKITO (04-01-2021 + MELHORES FILMES E LEMBRANÇAS DO ANO + MANK, SINCLAIR E EISENSTEIN + LINO E CANDANGO + ANTONIO LUIZ + BRASÍLIA E O ADEUS A MARIA DUARTE, GRANDE NOME DA VIDA CULTURAL DA CAPITAL BRASILEIRA

ALMANAKITO – TERÇA-FEIRA

04 DE JANEIRO DE 2021

. MELHORES FILMES (BRASILEIROS/ESTRANGEIROS) DO ANO DE 2020

  • SAMUEL WAINER, CICLO DE CINEMA DO ABC, IMPRENSA & CINEMA
  • MANK” & UPTON SINCLAIR/SERGEI EISENSTEIN
  • HERALDO DO MONTE EM LIVRO, QUARTETO NOVO (“FAKE”) E GERALDO VANDRÉ

*****LINO MEIRELLES

CANDANGO” – FILME E LIVRO

  • MELHORES FILMES DO ANO – Difícil estabelecer lista de melhores filmes do ano, num 2020 marcado pela pandemia, pelo fechamento de salas exibidoras, etc. As muitas listas às quais tive acesso estão misturando além de filmes lançados em (raros) cinemas e no streaming, filmes mostrados só em festivais. ****Seguem abaixo minhas confusas listas, mas só de filmes exibidos nos cinemas e no streaming (e registrados em minha bagunçada agenda):
  • MELHORES FILMES BRASILEIROS:
  • . Pacarrete, de Allan Deberton (CE)
  • . Fico te Devendo Uma Carta do Brasil, de Carol Benjamim (RJ)
  • . Todos os Mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra
  • . Babenco: Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”, de Bárbara Paz (SP)
  • . A Febre, Maya Da-Rin (RJ). AmarElo, É Tudo Prá Ontem – Fred Ouro Preto (SP)
  • . Partida, de Caco Ciocler (SP)
  • . Casa de Antiguidades, João Paulo Miranda Maria (SP)
  • . Cidade Pássaro, Matias Mariani (SP)
  • . Fim de Festa, Hilton Lacerda (PE-SP)
  • . Aos Olhos de Ernesto, Ana Luíza Azevedo (RS)
  • . Três Verões, Sandra Kogut (RJ)
  • . Meio Irmão, de Eliane Koster (SP)
  • . Dentro da Minha Pele, Toni Venturi e Val Gomes (SP)
  • (….)
  • *AGUARDANDO (os ótimos filmes, só mostrados em festivais – cito dois aos quais assisti e que impactaram muito):
  • . Segredos do Putumayo, Aurélio Michiles (SP)
  • . Sertânia, Geraldo Sarno (CE/BA)
  • . (***)
  • MELHORES FILMES ESTRANGEIROS:
  • . Os Miseráveis, Ladj Ly (França)
  • . O Conto das Três Irmãs, de Emre Erkmer (Turquia)
  • Nunca, Raramente, às Vezes, Sempre, de Eliza Hittman (EUA)
  • . Você Não Estava Aqui, de Ken Loach (Inglaterra)
  • . Atlantique, de Mati Diop (França, Senegal)
  • . Martin Eden, de Pietro Marcello (Itália)
  • . Transtorno Explosivo, de Nora Fingscheidt (Alemanha)
  • . High Life, de Claire Denis (França-EUA)
  • . O Oficial e o Espião, de Roman Polanski (França)
  • . Belle Époque, de Nicolas Bedo (França)
  • . Os Sete de Chicago, de Aron Sorkin (EUA)
  • . Wasp Network, de Olivier Assayas (França-Brasil)
  • (….)
  • CURTAS BRASILEIROS (DESTAQUES):
  • . A Morte Branca do Feiticeiro Negro, de Rodrigo Ribeiro (SC)
  • Inabitável, de Matheus Faria e Enock Carvalho (PE)
  • . O Barco e o Rio, de Bernardo Ale Abinader (Amazonas)
  • . República, de Grace Passô (SP)
  • . A Tradicional Família KATU, de Rodrigo Senna (RN)
  • . Vitória, de Ricardo Alves Jr (MG)
  • (…)
  • . GRANDES MOMENTOS DE 2020:
  • * A DESCOBERTA DE “SAL PARA SVANECIA”, de Mikhail Kalatozov (depois de assistir, também, ao longa “A Carta Não Enviada”, exibido na Mostra Mosfilm de Cinema Russo e Soviético, descobri que Kalatozov é grande, dos maiores da cinematografia eslava). Só conhecia dele “Como Voam as Cegonhas” (Palma de Ouro em Cannes) e “Soy Cuba”.
  • * A DESCOBERTA TARDIA DOS FILMES DE ALEXANDER MEDVIEDKIN – Conhecia o diálogo (e os filmes) de Cris Marker com (sobre) o diretor soviético, que o criador de “La Jetée” tanto amava, mas nunca vira os filmes medviedkinos. Com João Lanari na retaguarda, assisti a dois de seus longas mais famosos: “A Felicidade” e “A Nova Moscou”. Ainda me falta ver “A Operária Que Fazia Milagres”.
  • * Festival Roskino de Cinema Russo – Desde meus tempos de universidade não via tantos filmes russos. Nesse ano em que li “Kino”, de Jay Leyda (com quase 60 anos de atraso) e “Cinema Para Russos, Cinema para Soviéticos”, de João Lanari, fiz o mais intenso mergulho em uma única cinematografia (a soviético-russa, que tanto marcou minha vida).
  • . MUDAR DE VIDA – Outra descoberta tardia: o magnífico “Mudar de Vida”, de Paulo Rocha, com o baiano Geraldo del Rey. Cinema português de altíssima potência. Outra maravilha lusitana – A Metamorfose dos Pássaros, de Catarina Vasconcelos, joia rara apresentada pelo Festival Olhar de Cinema, de Curitiba.
  • . Mostra de Cinema Egípcio – Durante um mês me vi transportada para o país dos faraós. Vi (e revi alguns) todos os filmes programados por Amro Saad. Que a Mostra, realizada em parceria com o CCBB, se torne anual e seja um mix de presencial e on-line.
  • . MELHOR SÉRIE“DESCOLONIZAÇÕES”, de três realizadores franceses “filhos” de (do pensamento transformador) de FRANTZ FANON. Impacto total. No Canal Curta!. MELHORES “LIVES”: Neste 2020, que foi o ano das “lives”, destaco duas que me encantaram: José Paulo Netto (em dose dupla – no Tutameia e na Boitempo) e Luiz Antônio Simas (na Ilustríssima). Ótimas, também, as que a trinca do “3 em Cena” (Escorel, Sbragia e Badaró) promoveu com Aurélio Michiles (Segredos do Putumayo) e Cristina Amaral-Geraldo Sarno (politizadíssima, como eu gosto). *** Participei de muitas “lives”, quatro delas dedicadas ao cinema soviético-russo (no Canal do CPC-UMES – Conversa sobre o Cinema Soviético e Russo, com João Lanari e Igor Oliveira, e outra sobre o centen& aacute;rio de Bondarchuk, e no Canal de Evaldo Mocarzel – uma sobre Eisenstein, Pudovkin e Kulechov + outra inteira sobre Dziga Vertov, com Lanari, Luis Felipe Labaki e Evaldo). Mas destaco, como dignas de serem conferidas-assistidas, duas em especial: – A Permanência de ‘Aruanda’ 60 Anos Depois, com Vladimir Carvalho e Jorge Bodanzky, no YouTube do Fest Aruanda, e “Edgard Navarro e Otto Guerra” – no YouTube SESC – Fest Lati no – Festival de Cinema Latino-Americano de SP)…
  • SAMUEL WAINER, CICLO
  • DE CINEMA DO ABC, IMPRENSA & CINEMA
  • Terminei de ler, dias atrás, a biografia de Samuel Wainer escrita por Karla Monteiro (Cia das Letras). Como sou muito interessada no personagem (Wainer) e me intrigo com nossa incapacidade de implantar um jornal realmente alternativo (aos grandes diários mantidos por grupos da elite político-econômico brasileira), fui com sede ao pote. Já li tudo que se publicou (em livro) sobre Samuel Wainer e sua Última Hora. Mesmo assim, o livro de Karla traz muitas novidades. Ela, como Verissimo, é devota de Nossa Senhora do Contexto. E, com sensibilidade feminina, dá espaço generoso às mulheres. Em especial a Bluma Chafir, primeira companheira do jornalista. Há informações curiosas: 1. antes da UH-Rio Grande do Sul renovar a imprensa gaúcha, era comum chamar “ladrão de gado” de “abige atários”, 2. o cineasta Lima Barreto casou-se com a atriz Araçari Oliveira… na redação da UH. Pode?? São mais de 500 páginas com um poderoso retrato da imprensa brasileira dos anos 1940 até a década de 1970 (Wainer morreu em 1980). *** A imagem do jornalista judeu-paulistano-carioca ganha muitos matizes no livro. Karla não deixa, em momento algum, de mostrar suas profundas contradições (bota contradição nisso)… Mas o que mais me interessa quando o assunto é UH, é entender porque não se consegue, no Brasil, colocar um jornal ligado aos trabalhadores em circulação (seja impresso em papel, ou melhor ainda, DIGITAL). *** ******Para completar, li o livro FILMAR OPERAROS – Registro e Ação Política de Cineastas Durante a Ditadura Militar no Brasil, de Marcos Corrê a (Editora Appris, 2016). Depois de estudar nove dos filmes documentais realizados (entre 1974 e 1981) no Ciclo do ABC Paulista (feitos, também, em SP, capital), Corrêa se pergunta por que esta experiência de produção (muitos dos filmes foram realizados com apoio de Sindicatos de Trabalhadores) se desmanchou? Embora lembre que, das ideias do período tenha brotado a TVT (TV dos Trabalhadores), o pesquisador registra na página 323: “Uma das questões abertas pelas análises deste livro está na investigação da gênese de um pensamento que desembocaria na compreensão da necessidade, por parte dos movimentos sociais, em incorporar definitivamente a produção audiovisual como estratégia de comunicação. A articulação entre cinema e movimentos político-sindicais, essenc ialmente em torno da produção paulista entre os anos de 1979 e 80 pelos cineastas aqui analisados, repercutiu de forma positiva em diversas instituições, de modo que elas começaram a estabelecer seus próprios MECANISMOS DE PRODUÇÃO, REALIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO de filmes. Houve uma “inserção de novos mecanismos para o arcabouço de instrumentos a serem convertidos em serviço de comunicação popular-alternativa” (…) … Por que o projeto foi interrompido??? Eis a questão…
  • MANK” & UPTON SINCLAIR/SERGEI EISENSTEIN
  • Como Carlos Alberto Mattos, não integro o grupo de entusiastas com MANK, o filme de David Fincher, cotado para o Oscar e festejado pela maioria dos críticos. O longa me pareceu muito afetado, apegado em excesso ao artifício. Meu interesse se aguçou em uma parte, em especial, da trama (claro que é instigante qualquer filme que tenha a escritura do roteiro de “Cidadão Kane” como razão de ser): aquela em que Upton Sinclair se candidata a governador da Califórnia. Militante de centro-esquerda, ele enfrentaria poderoso candidato da direita, apoiado em massa pelos tycoons da poderosa indústria do cinema hollywoodiano (o mais poderoso do mundo, até hoje). Fiquei esperando um micro-diálogo q ue fosse em torno de QUE VIVA MÉXICO!, de Eisenstein, afinal uma produção de SINCLAIR UPTON e de sua esposa (história traumática na vida do letão-soviético). Mank escrevia o roteiro de “Kane” no início dos anos 1940 (o primeiro filme de Welles foi lançado em 1941). A parceria do Casal Upton com um cineasta soviético deve ter dado muita munição ao anticomunismo histórico dos poderosos da maior nação do mundo democrático. Com tal lembrança, o filme referenciaria dois cineastas – Welles, que mal aparece em MANK, e Eisenstein. A partir do final dos anos 1950, os dois iriam liderar as listas de maiores filmes do mundo, com KANE e POTENKIN (esta hegemonia só caíria na década passada, portanto, já no século XXI)….

*****CPC-UMES:

50 filmes russos ou soviéticos estão disponibilizados em DVD (alguns em blu-ray) no acervo do CPC-UMES Filmes (aquisição via digital). Destaque para Bola de Sebo, alguns Kalatozov, um Kurosawa soviético (Dersu Uzala), e mais: Vá e Veja, de Elem Klimov, “A Ascensão”, de Larissa Sheptiko, “A Infância de Ivan”, “Solaris” e “Andrei Roublev”, de Tarkovski, etc, etc. http://www.cpcumesfilmes.org.br

+ FESTIVAIS DO PRIMEIRO SEMESTRE:

. Parece que os festivais não se concentrarão, como ano passado, só no segundo semestre. Alguns já marcaram suas edições para os próximos meses:

. Mostra Tiradentes …… 22 a 30 janeiro

. Mostra Gostoso (RN)…..24 a 28 fev.

. CineEsquemaNovo…….10 a 15 abril

. Festival do Rio………….a definir (creio que o comando do festival carioca deve se ater a uma única edição este ano, provavelmente no segundo semestre, até que a Prefeitura do Rio coloque as contas em ordem…. depois da era crivela… Não????)

***ANTONIO LUIZ MENDES:

Na Revista de Cinema.

Impressionante como Antonio Luiz era estimado. Continuam chegando manifestações sobre filmes por ele fotografados. João Lanari, autor de “Cinema para Russos, Cinema para Soviéticos” lembra que, em 1979, Antonio Luiz fotografou (luz e câmara) “Crônica de um Industrial”, de Luiz Rosemberg Filho. A esposa do diretor de fotografia carioca contou a Lauro Escorel que há vários trabalhos inéditos dele aguardando hora de estreia. José Adão, da Amazônia, conta que conheceu Antonio Luiz durante as filmagens da série “Diários da Floresta”. Paulo Henrique Souto, jornalista e espécie de “Wilson Grey da figuração no cinema brasileiro” lembra que Antonio Luiz fez parte da direção de fotografia de “Sonho Sem Fim”, única ficção de Lauro Escorel, diretor de “Libertários” e “Fotografação”…

http://revistadecinema.com.br/2021/01/fotografo-antonio-luiz-morre-vitima-da-covid-19/

***AS CORDAS LIVRES

DE HERALDO MONTE

Já chegou, via Estante Virtual, meu exemplar do livro (com partituras) de Heraldo Monte, um dos integrantes do Quarteto Novo, que acompanhou Vandré e, com produção (e patrocínio financeiro) dele gravou o famoso disco de 1967. No livro, Heraldo (o quarteto integrava Hermeto Paschoal, Theo de Barros e Airto Moreira) faz revelação surpreendente — o grupo que acompanhou Jair Rodrigues (Disparada) na final do Festival da Canção era FAKE. Sim, aquele que transformou uma queixada de burro em instrumento. Afinal, os músicos verdadeiros do QUARTETO NOVO (na verdade o Terceto Novo, pois Hermeto Paschoal fora barrado pela empresa, por ser “feio”) excursionavam com Vandré nos badaladíssimos shows da RH ODIA. O jeito foi montar um grupo FAKE (ver trecho no livro de Heraldo, que prefere não relembrar em detalhes a atitude da Rhodia com Hermeto). O livro é um lançamento da Contraponto e Instituto ÇARÊ. *****Não deixem de assistir ao magnífico SOM DO VINIL (Canal Brasil Play – CANAIS GLOBO), que Charles Gavin e Tarik de Souza dedicaram ao elepê sessentista do QUARTETO NOVO.

*****LINO MEIRELLES

CANDANGO” – FILME E LIVRO

*LINO MEIRELLES, “CANDANGO, MEMÓRIAS DO FESTIVAL”, FILME E LIVRO: Embora tenha morado em Brasília ao longo de 25 anos —- (me formei na UnB, lá me casei com o saudoso Helinho Lopes dos Santos, pai de meus filhos Jorge Artur e Guto, trabalhei no Correio Braziliense , Jornal de Brasília e Globo DF) — não conheci o hoje cineasta Lino Meirelles.

A primeira vez que Zanin e eu o vimos, foi num dos foyer do CINE BELAS ARTES, em Sampa. Lá, ele e Yale Gontijo nos entrevistaram para o longa documental sobre os 50 primeiros anos do FEST BRASÍLIA. Nos vimos outras vezes, sempre no Festival Brasiliense.

Como os dois festivais dos quais o filme participou ano passado —Mostra SP e FEST Brasília— foram virtuais, há muito não nos vemos. Vi CANDANGO, o FILME, duas vezes e fiz meus comentários. Num, ponderei que o filme merecia uma enxugada (tem quase duas horas) e no outro, que o baiano Edgard Navarro merecia mais espaço, que Neville ganhou espaço DEMAIS e que os triunfos recentes do cinema mineiro, no FEST Brasília, não haviam ganhado registro algum.

Além de ter se transformado num CRUZADO em defesa do CINEMA BRASILEIRO, Lino sabe — o que é raríssimo — receber críticas. Não me mandou um e-mail que fosse reclamando de minhas considerações. Me mandou, isso sim, um exemplar do livro (volume 1) e camisetas, que Zanin e eu vestiremos com prazer. ***E saibam todos que Lino Meireles comandou, no portal METRÓPOLES, levantamento da história detalhada do mais antigo festival de cinema do país, o CANDANGO (53 edições). Um BANCO DE DADOS de valor inigualável. E vivas ao saudoso ANDRADE JÚNIOR, o KING KONG EN ASUNCIÓN!!! Foto incrível dele ilustra o livro de LIN O MEIRELES.

*******A INCRIVEL HISTÓRIA DA ILHA DAS ROSAS. Filme italiano de Sidney Sibila – Ontem, segunda-feira, segui sugestão de Patrícia Kogut (Coluna de TV, em O Globo). Ela definia como encantador um filme italiano, produzido e disponibilizado pela Netflix. Fui conferir. Trata-se, realmente, de uma deliciosa comédia, algo estilizada (e com muitos efeitos digitais). Encabeçando o elenco, o ótimo Elio Germano, que eu não via há séculos!!!! Um filme leve, gostoso de ver, com uma bela (pena que rápida) inserção documental, espírito libertário….Nada demais. Mas divertimento de qualidade. Confiram. ******E não deixem de ver GABO, O MAGICO DA REALIDADE, de Justin Webster, realizador britânico (no Brasil-Netflix, o documentário ganhou outro nome, bem fraquinho, aliás)….

Rô Caetano
Maria do Rosário Caetano
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