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*****FEST BRASÍLIA 2022 (ANO 55)

PISANDO EM OVOS E
O ÍNDEX DOS VOCÁBULOS

Por Maria do Rosário Caetano

Algumas brevíssimas reflexões:

1. Dandara Pagu (foto 1), comunicadora digital (e atriz estreante no ótimo curta O NOSSO PAI, de Anna Muylaert, no qual atua com as experientes e formidáveis Grace Passô e Camila Márdila) se aborreceu com “expressão equivocada” (politicamente incorreta??) que utilizei na matéria que escrevi, na Revista de CINEMA, sobre a cerimônia de entrega dos Troféus Candango. Que ela e a atriz Bárbara Colen apresentaram. Sendo (eu) gorda (meço 1m59 e peso quase 80 kg), entendi que dizer que ela tem “formas arredondadas” estava de bom tamanho. Mas não. Ela resolveu mandar carta (ou melhor bilhete) à Revista de CINEMA para protestar. E me chamou ou me comparou com uma certa “babi de formas magras”, que — confesso — desconheço. Afinal, sou uma senhora de 67 anos, avó de 3 netos, muito ocupada. Sou tão veterana, que das 55 edições do Festival de Brasília, estive em 48 (duas como estudante-espectadora e 46 como repórter). Dandara não gostou, também — apesar dos muitos elogios que dirigi a ela e a seu dom como improvisadora — de eu ter dito que, na segunda parte da cerimônia, quando ela parou de improvisar, errou a pronúncia de muitos nomes.
2. Coube a mim — como integrante do Júri do CANAL BRASIL (composto por Neusa Barbosa, Robledo Milani, Carlos Heli Almeida, Luiz Zanin Oricchio e eu) — entregar o TROFÉU (um lindo móbile em madeira, 15 mil reais e exibição na emissora) a UILTON OLIVEIRA, pelo curta-metragem NOSSOS PASSOS SEGUIRÃO OS SEUS. De um diretor black, sobre um personagem black, apagado pela História oficial, o operário Domingo Passos, o “Bakunin brasileiro”. Para animar a cerimônia, vítima de atraso brutal e marcada por discursos imensos, REDUNDANTES, e pela ação de dupla-coro paraibana que subiu ao palco (confundido com PALANQUE) umas seis vezes e falouuuuuuu como se não houvesse amanhã, achei por bem convidar as BELAS APRESENTADORAS (Bárbara e Dandara) para estarem em cena conosco, no centro do palco (ver foto 4). Mesmo assim, Dandara achou por bem me esculhambar. Direito dela.
3 – Esse textinho tem sua razão de ser. No debate de BIG BANG, curta de Carlos Segundo, usei a palavra “anão” (eu que amo os filmes “Os Anões Também Nasceram Pequenos”, de Herzog, e “Criaturas Que Nasciam em Segredo”, do saudoso Chico Teixeira). Fui advertida pelo protagonista, o talentoso, culto e articuladíssimo GIOVANNI VENTURINI (foto 2, com seu Candango de melhor ator). Eu não devia, postulou ele, falar ANÃO, pela carga histórico-pejorativa do termo, mas sim “portador de nanismo”. Como sou jornalista há quase 50 anos, fiquei pensando nos “fazedores de títulos”, obrigados a trocar um vocábulo de 4 letras por uma expressão de 17, sem contar os 2 espaços.
E lembrei-me da surpresa (que causou a mim e a todos os participantes de debate no Fest Gramado 2017) provocada pela cineasta pernambucana NARA NORMANDE (foto 3). Ela concorria com seu belo curta “GUAXUMA“. E, à queima roupa, sapecou: “sou sapatão”. Eu que amo a delicadeza do termo HOMOAFETIVA (homoafetivo) levei um choque. Pensava que o vocábulo estava INDEXADO. Soube, então, que as lésbicas brasileiras o haviam adotado. Carinhosa e políticamente o ressignificavam, dele se apropriando.… E agora, Dandara????