ROMY SCHNEIDER EM “3 DIAS EM KIBERON”: A SISSI DA ÁUSTRIA E DE VISCONTI EM FILME QUE REFLETE SOBRE A IMPRENSA DE CELEBRIDADES

*MOSTRA SP 2018:

ROMY SCHNEIDER: A SISSI
DA AUSTRIA E A SISSI DO
“LUDWIG” VISCONTIANO

O longa ficcional “3 Dias em Quiberon”, da alemã Emily Atef, disponível na programação da Mostra SP, recria, com atores, momento particular na vida de Romy Schneider (1938-1982). Angustiada, acendendo um cigarro no outro, bebendo muito, cheia de conflitos, problemas financeiros, distante dos dois filhos (um adolescente e uma menina pequena), ela se interna em spa de hotel 5 estrelas, na comuna de Quiberon, litoral francês. Um lugar paradisíaco.
Estamos em abril de 1981. Romy Schneider recebe amiga, austríaca como ela, colega desde os tempos do jardim de infância. Aceita receber também dois repórteres da revista Stern, para uma entrevista, que se promete reveladora. Afinal, a estrela mantém grande intimidade-amizade com o fotógrafo da poderosa revista alemã.
Filha de dois atores, Romy Schneider chegou ao cinema aos 15 anos, num filme em que contracenou com a mãe, Magda. Depois, ainda adolescente, estourou mundialmente, com a Trilogia “Sissi” (1955, 1956, 1958), filmes sobre a imperatriz da Áustria (que ela reviveria, já madura, no monumental e arrebatador “Ludwig, a Paixão de um Rei” (1973), parte da Trilogia Alemã, de Luchino Visconti (1906-1976).
No auge da fama, a atriz se apaixonaria por Alain Delon e os dois viveriam tórrido e tumultuado romance (de 1959 a 1964), até que ele a deixasse. Novos casamentos viriam a seguir. E dois filhos. E filmes corriqueiros e (alguns) merecedores de revisita: além de “Ludwig” (este incontornável), há que se destacar “O Importante é Amar”, de Andrej Zulawski, “Claire de Femme” (no Brasil, “Um Homem, Uma Mulher, Uma Noite”), de Costa-Gavras, “O Assassinato de Trostky”, de Joseph Losey (embora ela seja linda demais para o papel da secretária do revolucionário russo), “Assassinato por Amor”, de Claude Chabrol, “A Piscina”, de Jacques Deray , “Boccacio 70” (o episódio de Visconti) e “As Coisas da Vida”, de Claude Sautet (cineasta que a tinha como musa e amiga e que a dirigiu em muitos filmes). E não se pode esquecer “O Inferno”, filme-problema de Henri-Georges Clouzot (que rendeu making-of póstumo de rara potência — e mesmo nome — em 2009, dirigido por Serge Bromberg).
O filme de Emily Atef (“3 Dias em Kiberon”), produção germano-franco-suíca, participou do Festival de Berlim, em fevereiro último. Realizado em preto-e-branco, chega a resultado surpreendente. Concentrada em apenas três dias e ambientada no hotel-spa (e na paisagem que o circunda), a narrativa ganha força pela dura crueza de seus diálogos (em alemão, língua materna da atriz, e francês, língua adotiva — lembremos que Romy era cidadã austríaco-germânico-francesa) e pelo elenco notável. A protagonista Marie Baümer é um achado. Nascida em Dusseldorff, em 1969, tinha, ao filmar, seis anos a mais que Romy Schneider. Mas sua beleza emula, de forma impressionante, a da deusa austríaca, famosa por ser uma das mulheres mais lindas do mundo. A amiga feiosa (interpretada por Birgit Minichmayr) também é muito convincente. E os dois repórteres que vivem do culto a celebridades (os ótimos Charly Hübner e Robert Gwwisdek) permitem à realizadora erguer sólida análise sobre o papel da imprensa na vida dos artistas. E o faz sem maniqueísmo, pois Romy Schneider não é apresentada como um anjo. Contraditória, frágil, madura e infantil ao mesmo tempo, ela usa a imprensa e se deixa usar. Uma alimenta a outra.
Sobre as angústias da estrela austríaca, vale lembrar que ela morreria, de ataque cardíaco, aos 43 anos, treze meses depois dos três dias e três noites em Quiberon. Durante o filme a veremos consumindo doses substantivas de calmantes para dormir. E perdas como a do filho adolescente (ele recorreu ao suícidio, como o pai?) a devastariam.
Um registro: Denis Lavant, aos 57 anos (mas aparentando muito mais), o ator-fetiche de Leo Carax, dá vida a mais um maluco. Em participação especial, ele interpreta um poeta-pescador que vai sentar-se, à mesa, para declamar versos que encantam Romy, nestas alturas, fugindo dos rigores da dieta do spa e se encharcando em dezenas de taças de champagne. O filme tem sua última sessão nesta sexta-feira, 26, às 15h40, no Cine Belas artes. Será que será comprado para o circuito brasileiro?

* BRUNO DUMONT — “CoinCoin e os Inumanos” (capa da Cahiers du Cinéma) não tem o frescor de “O Pequeno Quinquin”, mas continua original (e desta vez, com Frente Nacional e imigrantes na trama). E com um final arrebatador. Dura 3 horas e uns quebrados.

* ARGENTINA – O que “El Angel”, candidato da Argentina ao Oscar, não consegue, VERMELHO SOL realiza com brilho.

* ROMENIA EM BUSCA DE NO OSCAR – O que o romeno “Eu Não Me Importo se Entrarmos para a História como Bárbaros” tem de melhor é o título. O filme mesmo não tem a potência do cinema romeno que, na década passada, acumulou prêmios e prêmios em grandes fetivais internacionais. Seu humor é óbvio e sua protagonista irritante. Ah, se Radu Jude tivesse o senso de humor, a sutileza e a criatividade de “Contos da Era Dourada” (Cristian Mungiu e parceiros, Romênia, 2009), uma das grandes comédias de nosso tempo, “Eu Não me Importo…” teria resultado menos decepcionante.

. GOA E MACAU — MAYA, de Mia Hansen-Love é interessante, delicado, envolvente. E tem a especulação imobiliária como um dos temas (e GOA, na Índia, como principal cenário). No que se aproxima de “Hotel Império”, do lusitano Ivo M. Ferreira (ambientado em Macau, China). Goa e Macau, vale lembrar, foram colônias portuguesas. Mas este HOTEL IMPERIO, apesar da beleza (o filme se apresenta como um “noir” coloridíssimo) perece vítima de artifícios desvitalizadores.

+ LEITURAS DE JORNAL
Recomendo-lhes a leitura dos textos de
Sérgio Rodrigues, Bresser Pereira, Laura Carvalho (Economia),
Janio de Freitas, Clovis Rossi + matéria sobre RASGA CORAÇÃO
(todos na Folha). Parece que, que, na undécima hora, alguns
intelectuais estão acordando. Tarde demais???? Alguém tem o
texto do Caetano Veloso, no NYT, sobre o momento que
estamos vivendo, para me passar?????????