OS FESTIVAIS E O INEDITISMO + O SAUDOSO ANDRADE JÚNIOR PROTAGONIZA “KING KONG EN ASUNCIÓN”
+ OS MESMOS FILMES?
OU APOSTA NOS INEDITOS?A questão do ineditismo nos festivais:
Henrique Freitas Lima, realizador (“Lua de Outubro”) e produtor gaúcho, me enviou, recentemente, indagações (via facebook): por que os festivais de Vitória e o FAM (Florianópolis Audiovisual MercoSul) exibiam “Pacarrete” em suas mostras competitivas, se o longa de Allan Deberton já recebera oito Kikitos em Gramado (Ano 47), incluindo o de melhor filme? Se o Brasil produz mais de 150 longas por ano, não haveria filmes novos para tais competições?
Defendi a participação de “Pacarrete” no FAM, pois ele competia com cinco filmes hispano-americanos e recorri, para fortalecer meu argumento, ao mundo do futebol: o melhor time de um campeonato nacional se tornaria o representante do Brasil numa competição continental, etc.
Em conversa com Marilha Naccari, da equipe organizadora do FAM, ela lançou mão de argumento diferente do meu. Ela lembrou que os festivais abrem inscrições, fazem suas próprias seleções, e não conhecem as listas uns dos outros. E que Gramado, Vitória e FAM tiveram períodos de inscrição e seleção assemelhados.
Neste ponto, discordo de Marilha, pois há solução. Os festivais podem escolher filmes que ficariam de sobreaviso (em reserva técnica). Se, antes de sua realização, um filme de sua lista de selecionados ganhasse o prêmio principal de outro festival, ele seria substituido pelo título colocado em reserva (de conhecimento só da curadoria do festival).
Cineastas e diretores de festivais argumentam que seus públicos (num país do tamanho do Brasil) não podem ser privados de bons filmes, por terem eles vencido outros certames. Capixabas, catarinenses, etc, etc, não podem ser privados de, por exemplo, “Pacarrete”, só porque ele venceu o primeiro festival brasileiro em que concorreu.
Longe de mim jogar filme que vence uma competição numa espécie “limbo” (dos festivais). Ele pode e dever ser exibido, mas hors concours. Volto a dizer: se tal filme ganha de novo, o segundo festival a premiá-lo chove no molhado; se perde, fica parecendo que não merecia a consgração recebida no certame anterior.
Dito isto (ver nota abaixo sobre “King Kong en Asunción”, um dos novos longas de Camilo Cavalcante) coloco a questão do ineditismo no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o mais antigo do país (criado em 1965, com 51 edições realizadas: a deste ano, de 22 de novembro a primeiro de dezembro, será a de número 52).
Quando a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, terceiro festival mais antigo do país (42 edições este ano), lançou sua lista de 300 filmes selecionados (sendo 60 deles brasileiros), vi que muitos deles (100% inéditos em território nacional) não se guardaram para o Festival do Rio, nem para o Fest Brasília 52.
Caso de Lírio Ferreira (Acqua Movie), Eryk Rocha (Breve Miragem de Sol), Sandra Kogut (Três Verões), Ana Luiza Azevedo (Aos Olhos de Ernesto), Bárbara Paz (“Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou”) ), Andrucha Waddington (“O Juízo”), etc, etc, etc. Paulo Caldas, por exemplo, colocou dois títulos na Mostra SP: “Abismo Tropical” e “Flores do Cárcere”, este em parceria com Bárbara Cunha).
Para complicar a situação do Festival de Brasília, que nas duas últimas décadas (com raras exceções) priorizou produção 100% inédita, havia a data do Festival de Rio (7 a 17 de novembro). Deduzi que a grande maioria dos que, por acaso, haviam se guardado inéditos, iriam para a Première Brasil carioca. O que Brasília exibiria de inédito? Preencheria suas sete vagas com filmes já exibidos em Gramado, São Paulo ou Rio?
Só que as dificuldades orçamentárias do Festival do Rio obrigaram seu comando a transferi-lo para dezembro (de 9 a 19). A situação que antes complicava o trabalho da comissão de seleção candanga, agora complica a do Rio. Afinal, sua principal mostra se chama Première BRASIL (e não Première RIO). Claro que, alguns realizadores cariocas, em solidariedade ao festival de sua cidade, devem guardar-se 100% inéditos. Aguardemos.
O comando de Brasília deve torcer para que o pernambucano Camilo Cavalcante conclua seu “King Kong en Asunción” em tempo de participar da quinquagésima-segunda edição do festival criado por Paulo Emilio. Afinal, o filme tem como seu protagonista o ator brasiliense (nascido no Ceará) Andrade Júnior. O veterano intérprete do teatro e do cinema brasiliense morreu em maio deste ano, aos 73 anos. Causou comoção na cidade que ele amava e adotou. O velório de Andrade Júnior aconteceu no Cine Brasília, palco do festival, e foi concorridíssimo. Vê-lo na tela como protagonista de um road movie latino-americano será catártico, arrebatador. O filme pode estar na competição ou na abertura (ou encerramento) do festival candango. Em qualquer um destes três postos, a emoção será imensa, especial, justa.+ O SAUDOSO ANDRADE JÚNIOR
PROTAGONIZA FILME DE CAMILO CAVALCANTE (“King Kong en Asunción) +”BECO” NA MOSTRA SPCamilo Cavalcante é um cineasta surpreendente e apaixonado pela América Latina e pelo Brasil. Quando pensamos que ele está na encolha, descobrimos que está, isto sim, com 3 longas novos. Um deles, BECO, está na Seleção Brasileira da MOSTRA SP. E mais: Camilo mobilizou a maravilhosa Ana Ivanova para seu KING KONG EN ASUNCIÓN (que nome delicioso). Tomara que o filme fique pronto em tempo de participar do próximo da edição 52 do FEST BRASÍLIA, pois será maravilhoso ver o saudoso ANDRADE JÚNIOR como protagonista deste road movie camiliano-latino-americano.